Um prêmio é um estímulo, é uma forma de mostrar algo valioso que pode servir de inspiração e que pode contribuir para a abertura de novos caminhos. Nesse sentido, o reconhecimento das áreas educativas dos museus é um endosso que, em muitas ocasiões, é o feliz corolário de um caminho bastante espinhoso, pois essas ações nem sempre contam com recursos, infraestrutura ou apoio institucional.
Ao longo dos anos, os museus vêm sofrendo mutações e expandindo seu olhar dos objetos para as pessoas, tornando-se espaços de práticas cidadãs e comunitárias, de revisões para novas estratégias, de desenvolvimento de projetos pedagógicos e de ativações para abraçar a diversidade de públicos em direção a um futuro profissional melhor.
Em particular, são as pessoas que estão em contato direto com as e os visitantes diariamente que detectam e nos sensibilizam para a importância de integrar as vozes das comunidades – do poder participativo e interpretativo, como nos diz Nina Simon (2010) – e da necessidade imperativa de que elas tomem forma por meio de atividades, projetos, ações concretas que dão lugar à transformação.
Nesse contexto, o Prêmio Ibermuseus de Educação consolida um olhar sobre uma função essencial do museu, reconhecendo propostas em execução, mas também aquelas que estão em processo de elaboração e promovendo sua implementação.
Ao longo de tantos editais, o Programa Ibermuseus reuniu uma enorme quantidade de projetos institucionais que nada mais são do que a fase final de diálogos entre equipes de trabalho, revisões, vontades, sonhos, teorias, autores e reflexões que pacientemente passaram pelo processo criativo de escrever, revisar e concorrer como um ritual à espera de uma decisão final que, favorável ou não, sempre permite nos profissionalizarmos de alguma forma. É esse mesmo tempo de construção e espera, tantas vezes cúmplice de nosso trabalho educativo, que nos permite parar para olhar, ativar a escuta e a empatia para sonhar com a produção de novos significados nos projetos voltados para uma museologia participativa.
Os museus ibero-americanos têm mais ou menos as mesmas dificuldades, especialmente em relação à forma solitária com que atuam no campo da educação. E, ao mesmo tempo, coincidem em seu espírito, ou seja, na necessidade de trabalhar imperiosamente com suas comunidades, com o objetivo de gerar espaços colaborativos que visem ao bem-estar, ao bem comum das pessoas, dos bairros e dos lugares que habitam. Como contribui a professora e psicóloga especializada em neuro educação e diversidade, Coral Elizondo (2010), não se trata mais apenas de incluir, mas de não deixar ninguém para trás.
Nesse contexto, os trabalhos apresentados ao Prêmio Ibermuseus de Educação ao longo dos anos tiveram características que merecem ser destacadas e que, por sua vez, foram promovidas e reforçadas pelo Programa. Uma delas é a tendência de os projetos incentivarem o diálogo e a colaboração com diferentes atores, abrindo o museu para territórios (físicos e simbólicos) às vezes desconhecidos; no entanto, o desejo e a ousadia das equipes de criar um trabalho comunitário foi o norte que não se perdeu de vista. Outra característica é que esses projetos são frequentemente experiências que vêm sendo implementadas há vários anos, o que demonstra o caráter sustentável de muitas dessas propostas. Uma terceira característica é que esses projetos fortalecem a participação de grupos historicamente excluídos ou marginalizados.
Agora, por que esses elementos nos parecem essenciais? Porque no campo da educação em museus – enquadrada na chamada educação não formal, ou seja, naquele tipo de educação que cumpre todos as rigorosas exigências do processo educativo, mas que, como diz Trilla (2003), não busca fornecer diplomas de educação formal – o que nos importa é reconhecer e valorizar o fato de que os museus podem se tornar espaços de oficinas ou laboratórios onde é possível refrescar o acervo para sair da pedagogia tradicional que explica os objetos, dando vida a um novo formato pedagógico/cultural cujo interesse está focado na ressignificação da memória e na transformação do espaço social. Rabi (2018) chama esse cenário de “educação corajosa”: um tipo de educação em que o amor, o debate e o exercício crítico da realidade não podem estar ausentes.
O Programa Ibermuseus, numa iniciativa iniciada em 2010, abre com este Prêmio uma nova linha na história da educação em museus. Estabelece uma iniciativa de cooperação e integração de países para incentivar a articulação de políticas, visões e práticas. Chega para premiar essa pedagogia corajosa, chega para incentivar os museus a criarem uma pedagogia latino e ibero-americana. E o que é isso, exatamente? Em termos simples: uma pedagogia comunitária; sensível; sensata; sensível; afetiva; respeitosa de seus bairros, de seus povos e de sua história (ou histórias), das mulheres, das meninas e dos meninos; uma pedagogia museal que não receia as perspectivas de gênero ou de idade; que abre suas portas, não apenas para mostrar suas coleções e contar sua narrativa, mas (e antes), para deixar entrar as vozes que virão transformar o que pensávamos já ter sido transformado.